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O aumento expressivo no custo do café tem pressionado bares e restaurantes a reajustarem seus preços, gerando desafios para o setor. Nos últimos 45 dias, o valor do grão subiu mais de 30%, o que intensificou um movimento de alta que se arrasta nos últimos anos.
"De cinco anos para cá, o café subiu 276% e, ao mesmo tempo, o dólar subiu mais de 30%. Podemos afirmar que o custo do café subiu 300%, ou seja, triplicou de preço. Em razão do aumento dos últimos 45 dias, o impacto foi mais forte agora", destaca Léo Montesanto, fundador da Coffee++.
Essa escalada nos preços tem impacto direto nos custos operacionais dos bares e restaurantes, que dependem do café como um dos principais produtos do cardápio. A alta recente reforça um dilema para os estabelecimentos. Enquanto o custo do café sobe rapidamente, os preços repassados ao consumidor avançam em ritmo mais lento.
Em janeiro, por exemplo, o preço do cafezinho nos bares e restaurantes subiu apenas 2,71%, muito abaixo da alta de 8,56% registrada nos supermercados no mesmo período. No acumulado de 12 meses, a diferença é ainda maior: a inflação do café servido fora de casa foi de 10,49%, enquanto nos supermercados chegou a 50,35%, segundo dados do IPCA.
O comportamento dos preços nos bares e restaurantes reflete a dificuldade de um setor que opera com margens reduzidas e precisa manter a atratividade para consumidores cada vez mais cautelosos. Levantamento da Abrasel aponta que 26% dos empresários não conseguiram reajustar seus cardápios nos últimos 12 meses, enquanto 63% fizeram reajustes abaixo ou apenas acompanhando a inflação.
Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, essa contenção nos preços dentro dos estabelecimentos ocorre porque há uma tentativa do setor de segurar a inflação de forma geral, e no caso do café não é diferente.
"O setor tem segurado a inflação de forma geral, e no caso do café não é diferente, mas há uma dificuldade crescente diante das altas seguidas no preço do insumo. Essa variação faz com que, em termos relativos, tomar café em bares e restaurantes tenha ficado mais barato do que consumir em casa", afirma.
A resistência em repassar os aumentos ocorre porque o consumidor, pressionado pela perda de poder de compra, tem se tornado mais sensível a reajustes. Muitos empresários tentam manter os preços o máximo possível para não perder clientes fiéis, mas, diante da escalada nos custos, essa estratégia se torna cada vez mais difícil.
A persistência desse cenário pode levar a um aumento mais significativo no preço do café nos estabelecimentos nos próximos meses.
Além do custo do grão, outros fatores também pesam na conta dos empresários, como a alta no valor da energia elétrica, dos aluguéis e da mão de obra. Esse conjunto de pressões inflacionárias cria um ambiente desafiador para os negócios, especialmente os de pequeno e médio porte, que têm menos margem para absorver aumentos sem impactar seus preços finais.
Diante desse panorama, a expectativa é que os empresários do setor precisem reajustar gradativamente os preços do café para lidar com o aumento dos custos e manter a sustentabilidade de seus negócios. O consumidor, por sua vez, pode ter que se preparar para pagar mais pelo tradicional cafezinho fora de casa.