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O crédito está escasso na economia, avalia o empresário José Maurício Caldeira

Taxas de juros muito altas inibem investimentos e prejudicam vendas. Governo prepara pacote para destravar empréstimos e impulsionar atividade econômica

 

 

José Maurício Caldeira - Economia

 

A manutenção da Selic, a taxa básica de juros da economia em 13,75%, pelo Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central, com sinalização de que o percentual pode até aumentar, foi um balde de água fria para os setores produtivos. Afinal, além de reduzir o ritmo da economia, uma taxa tão elevada dificulta a concessão de crédito, que já está restrito desde o início do ano com a derrocada das Lojas Americanas.

 

“Estamos com os maiores juros reais do mundo”, diz José Maurício Caldeira, sócio-acionista da Asperbras, grupo que atua em diversos setores da indústria e do agronegócio. “Taxas no patamar atual inibem os investimentos e prejudicam as vendas, sobretudo de bens duráveis que são comprados a prazo”, reforça José Maurício Caldeira.

 

O segmento de máquinas e equipamentos, por exemplo, que depende do crédito concedido às indústrias para vender, teve o pior janeiro em três anos. Líderes do setor dizem que a escassez de recursos e o crédito muito caro têm levado à suspensão de projetos.

 

A demanda das empresas por crédito em fevereiro caiu 10,17% na comparação com o mesmo mês de 2022, segundo o Indicador de Demanda das Empresas por Crédito, divulgado pela Serasa. “Os juros altos como os atuais jogam a atividade econômica para baixo e desestimulam os empresários a buscarem crédito”, pontua José Maurício Caldeira.

 

Alt da foto: José Maurício Caldeira - Economia
Foto: Divulgação – José Maurício Caldeira sócio acionista da Asperbras

 

Neste contexto adverso, a situação fica ainda mais difícil para as micro, pequenas e médias empresas que têm se apoiado nas duas linhas de crédito criadas durante a pandemia (Pronampe para as micro e pequenas e Peac para as médias) para driblas as dificuldades.

 

Um ponto de atenção, ressalta Caldeira, é que as projeções são de que os recursos disponíveis para Pronampe e Peac se esgotarão ainda no primeiro semestre. Por isso, é urgente que funding dessas duas linhas seja renovado. Em vigor até 2024, o Pronampe tem R$ 14 bilhões disponíveis para este ano dos quais cerca de 30% já foram desembolsados. O Peac, cuja validade termina no fim de 2023, tem estimativa total de R$ 22 bilhões disponíveis nas edições de 2022/2023 e média diária de desembolsos de R$ 137 milhões – 28% são para a indústria. Embora os juros estejam elevados, essas linhas ainda são mais baratas do que as de crédito livre.


Diante desse cenário preocupante, o governo está gestando um pacote para destravar o crédito. Algumas propostas necessitam mudanças na lei e têm de ser aprovadas no Congresso Nacional, o que exigirá negociação. Outras dependem apenas de atos do Executivo. Algumas medidas que devem ser anunciadas em breve são: a facilitação do compartilhamento de dados dos clientes com os bancos, para que estes conheçam a real situação financeira de quem está pleiteando crédito; o fim do teto dos juros, hoje limitado à Selic, para empréstimo entre particulares, pois o entendimento é que este teto desestimula o desenvolvimento do mercado de capitais; a facilitação da execução da dívida no caso de devedores cobrados na Justiça e a ampliação da atuação de cooperativas de seguro para aumentar a competição.

Ainda assim, os setores produtivos esperam que uma redução da Selic não tarde. “Ela define toda a estrutura de juros da economia, por isso é fundamental que caia”, diz José Maurício Caldeira.

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